Pentagrama da dor

Por Julianne Cerasoli

Ft.David Homsi

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Conheça detalhes sobre as cinco lesões mais comuns entre corredores. Aprenda como tratar e, principalmente, saiba como prevenir essas inimigas do esporte

Tendinopatias, síndrome do trato ílio-tibial, fasciite plantar, fraturas por estresse, síndrome da dor patelo-femoral. O corredor que nunca ouviu nenhum desses nomes durante uma consulta médica já pode dizer que ganhou o dia. São essas as lesões mais comuns entre quem leva a vida correndo, mesmo que por prazer, competindo com si próprio. Escapar delas pode ser uma missão difícil. Afinal, parou para pensar quanto impacto seu corpo teve que suportar durante todas as passadas que você já deu?

A chave, os especialistas não cansam de repetir, é a prevenção. E quem gosta de correr sabe que, pior que conviver com a dor, é tentar sobreviver sem a corrida. Então, antes de sair resmungando por aí devido a um problema no joelho e outro no tornozelo, repita esse mantra: ‘eu prometo que nunca mais correrei sem alongar, nunca mais desrespeitarei minha planilha de treino, nunca mais usarei calçado inadequado, nunca mais deixarei o fortalecimento muscular de lado’. Pronto. Agora você pode seguir adiante, sem sustos.

De acordo com dados de um estudo realizado na Universidade da Columbia Britânica em 2002, que contou com a participação de 2.002 corredores, a lesão mais comum entre os que praticam o esporte é a síndrome da dor patelo-femoral, com 331 casos, seguida pela síndrome do trato ílio-tibial (168) e pela fasciite plantar (158).

A verdade é que lesões, independentemente do nome, são relativamente comuns na vida dos corredores. Levantamento realizado em países latino-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Peru e Venezuela), patrocinada pelo laboratório Merck Sharp & Dohme, avaliou o conhecimento de 450 entrevistados a respeito da origem de lesões sofridas durante a prática de algum tipo de esporte nos últimos 3 meses. Os problemas foram mais freqüentes durante a prática da corrida, com incidência de 15% entre as mulheres e 10% para os homens. No grupo de pessoas com mais de 50 anos, contusões decorrentes do hábito de correr foram ainda mais citadas, com 52%.

‘Alvos prediletos’

Os problemas que o corredor pode enfrentar parecem muitos, mas, tanto os fatores de risco, quanto as ações preventivas, levam a um mesmo caminho: treinamento responsável. Compreender a importância de não ultrapassar os limites e adotar alguns cuidados simples, como dar atenção ao alongamento e ao fortalecimento muscular; usar calçado e vestimentas adequados; correr em locais apropriados, com o mínimo possível de buracos, além de evitar posturas erradas e repetitivas, já é mais que meio caminho andado para não ter que se preocupar depois com visitas a médicos, tratamentos e, pior, ficar sem correr.

O perfil do futuro lesionado é facilmente vislumbrado pelos especialistas. “É aquela pessoa que objetiva resultados rápidos e pratica o esporte em local e clima inadequados, sem avaliação profissional ou orientação, sem calçado próprio, sem realizar alongamento e aquecimento, sem ter fortalecido a musculatura, sem hidratar-se corretamente”, define o médico ortopedista e do esporte Julio César Gali, lembrando que esses fatores, mesmo que isolados, oferecem riscos.

O mesmo estudo da Universidade da Columbia Britânica examinou combinações de fatores existentes em cada atleta que facilitariam o surgimento de determinadas lesões, chegando à conclusão de que os corredores que apresentaram desalinhamentos dos membros inferiores, ou seja, joelhos em genuvaro (pernas ficam como dois parênteses) e genuvalgo (como se os parênteses fossem invertidos), têm maior possibilidade de desenvolver a síndrome patelo-femural, em especial se tiverem menos de 34 anos e mulheres com menos de 1,57m de estatura. Em compensação, correr por menos de 5 horas semanais é um fator de proteção, para mulheres, no caso desta lesão.

Na síndrome do trato ílio-tibial, homens com menos de 34 anos com joelho em genuvaro foram os mais atingidos. A fasciite plantar teve maior ocorrência em atletas com ambos os desalinhamentos de joelhos citados acima, além do arco do pé plano, diferença do comprimento dos membros inferiores maior que 0,5cm ou o pé com arco muito alto. Os homens com mais de 34 anos e mais de 1,71m de estatura e as mulheres com mais de 60kg têm risco aumentado para esta lesão.

Uma das tendinopatias, a tendinite do tendão calcâneo ou tendão-de-aquiles, também é relacionada ao desalinhamento dos joelhos, principalmente com o joelho em genuvaro, assim como o arco baixo do pé. Além disso, homens com menos de 34 anos têm menor chance de desenvolvê-la.

O principal erro que um corredor pode cometer é praticar a atividade fora das condições ideais. E isso engloba fatores intrínsecos e extrínsecos. O fisioterapeuta David Homsi, especialista em fisioterapia esportiva, sublinha que quem está muito acima do peso precisa de atenção especial em relação à carga de treinamentos e ao tênis que utiliza. De acordo com o profissional, os fatores intrínsecos têm a ver com condições biomecânicas, como veremos adiante, enquanto os extrínsecos são locais de corrida inadequados (terrenos irregulares, muita subida e/ou descida), tênis de corrida (de acordo com a distância que irá competir/treinar e com seu tipo de pisada), e, principalmente, erro de treinamento. “Talvez esta seja a causa mais importante. Isso implica em qualquer mudança abrupta na planilha de treino, seja para aumentar velocidade ou quilometragem, ou pior, as duas ao mesmo tempo. O recomendado é aumentar no máximo de 10% a 15% do volume total de treino por semana. Estudos já mostraram que quilometragem superior a 80km/semana predispõe o atleta recreativo a uma maior incidência de lesão”, informa. De acordo com estudo da Escola de Medicina da Universidade de Standford, o aumento de lesões se dá mesmo quando a distância semanal ultrapassa 32km.

As lesões ocorrem devido à má relação entre a freqüência de estímulos e o nível de estresse ocasionado pelo treino. “Quando se tem uma baixa freqüência de exercícios, pode-se utilizar estímulos mais intensos, enquanto que, se o número de estímulos por um determinado período for elevado, não se pode abusar da intensidade”, elucida Vitor Tessutti, pesquisador do Laboratório de Biomecânica do Movimento e da Postura do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da USP.

O ortopedista José Marques Neto, especialiado em medicina do esporte e corredor há 12 anos, concorda. “O perfil do lesionado, independentemente do tipo de lesão, é o corredor compulsivo, aquele que não respeita o treinamento, nem o tempo ou os passos da recuperação.” Ou seja, além de ser o tipo mais propenso a se machucar, também é o mais difícil de curar. “A pior coisa a fazer é, ao se sentir bem, achar que pode forçar mais. O sistema cardíaco, por exemplo, é fácil de medir, de determinar onde está o problema, mas o músculo-esquelético não. Por isso é preciso tempo para que ele se condicione”, completa.

Outros problemas, estruturais ou biomecânicos, também podem aumentar a suscetibilidade de lesões durante um treinamento intenso. Como são características que não podem ser mudadas, o que protege o corredor nesse caso são adaptações. “A causa dessas implicações genéticas ainda não é possível determinar, então, o cuidado deve ser redobrado”, recomenda Neto.

São vários os fatores biomecânicos que podem levar a lesões. Mal alinhamento dos membros inferiores (posição do joelho: valgo ou varo), assimetria do movimento do quadril; discrepância de comprimento entre membros inferiores; tíbia vara; pronação excessiva da articulação subtalar; fadiga muscular; magnitude no impacto (1,5 a 5 vezes o peso corporal); taxa da força de impacto (velocidade em que ela ocorre no sistema esquelético, já que o músculo não tem tempo suficiente para efetuar seu papel de amortecedor); ângulo do joelho maior que 16 graus (entre a reta formada pelo ponto central da patela e a porção proeminente do osso do quadril e uma reta perpendicular ao solo, passando pelo centro da patela) e a formação do arco plantar (alto, normal ou baixo).

Nestes casos, é necessário o acompanhamento profissional mais próximo e alterações no treinamento. “Quanto maior a ocorrência e a magnitude de cada um deles, maior a chance de lesão, já que o desalinhamento proporcionará uma diminuição na capacidade de utilização da musculatura da forma mais eficiente para amortecer e efetuar a propulsão da corrida”, explica Tessutti. Para aqueles com deformidades nos pés que não são corrigidas pelos tênis, a solução é a utilização de palmilhas específicas.

Júlio Gali acrescenta a necessidade de cautela nos terrenos com variações de altimetria. “O exercício em subidas causará estresse no pé e tornozelo; em descida, no joelho e perna”, explica, lembrando que sempre é necessário considerar e respeitar as condições do meio. “No calor ou tempo úmido, deve ser observado o cuidado de ingestão de líquidos; no frio a roupa deverá ser apropriada. Ambientes poluídos não são aconselháveis”, recomenda.

Não é pedir muito: estar preparado para executar determinado treino, fazê-lo com uma freqüência que permita a recuperação do organismo e conhecer qual a conformação física quanto ao alinhamento dos ossos e articulações. Essa é a lista de itens aos quais o corredor deve ficar sempre atento, segundo os conselhos de Tessutti.

Prevenção é o melhor tratamento

O fato concreto é que a maioria das lesões podem ser evitadas. “Como os fatores causais são quase sempre os mesmos, cerca de 60% a 70 % delas podem ser prevenidas. Cada corredor tem seu limite fisiológico e as lesões aparecem ao se tentar ultrapassá-lo”, alerta Gali.

Mas o grande vilão da saúde do corredor é o impacto. Cada quilômetro percorrido a um ritmo de 4min/km significa 400 passadas. Levando-se em conta uma quilometragem semanal de 25km, por exemplo, são 10 mil passos! E isso sem contar que, quanto mais lento, menor a amplitude da passada e, conseqüentemente, mais passos o atleta tende a dar para completar a mesma distância.

Estudos mostram que, em corridas em superfícies planas, as forças exercidas nos membros inferiores são iguais a duas a três vezes o peso do corpo. Por isso o tênis é tão importante, não apenas na hora de absorver o impacto, como também para proporcionar impulso e estabilidade. Afinal, as lesões não ocorrem somente por sobrecarga. Muitas vezes, uma passada incorreta pode deixar o corredor de molho por um bom tempo. Homsi recomenda que os tênis sejam revezados a cada treino e que pares novos fiquem em casa em dias de competição. Júlio Gali reforça a importância de se observar a ‘validade’ do calçado. “Em condições de treino em piso plano, levando-se em conta os estudos sobre a sobrecarga em cada passada, os calçados perderiam 60% de sua capacidade de absorver impactos após 400 a 800km de uso. Ou seja, um atleta que corre 15km por semana deveria trocar o calçado esportivo após 6 meses a 1 ano de uso.”

Outro parceiro fundamental para o corredor é o fortalecimento muscular, principalmente para quem percorre distâncias mais longas. Para isso, a musculação é uma aliada importante, além de respeitar o que é determinado pelo treinador. “Deve-se evitar o overtraining, respeitar seus limites físicos. Uma dica é utilizar algum outro tipo de esporte, como a natação, por exemplo, para complementar o seu treinamento”, indica Homsi.

O alongamento é uma prática que não pode ficar fora do cotidiano do corredor em hipótese alguma. Há quem diga, inclusive, que é melhor alongar do que correr, em casos esporádicos de falta de tempo para fazer os dois. Afinal, boa flexibilidade é sinônimo de movimentos amplos, o que melhora a passada e, conseqüentemente, a performance.

Avanços

Assim como as ações preventivas, os tratamentos também são um tanto ‘repetitivos’, no bom sentido. Além da história mais que conhecida de que o tratamento mais eficaz é a prevenção, as lesões são geralmente curadas com fisioterapia, muito alongamento – não apenas dos membros inferiores, mas também dos superiores e até do pescoço, importante para a respiração – e fortalecimento. E qualquer semelhança com as dicas anteriores sobre como fugir desses problemas não é mera coincidência.

Além do trabalho preventivo, ainda é necessário repouso ou modificação da atividade. “Eventualmente podemos usar antiinflamatórios não hormonais, gelo e fisioterapia. Em determinadas ocasiões, como dores de longa duração que não melhoram com o tratamento descrito, pode haver até mesmo a necessidade de tratamento cirúrgico”, revela Gali. O retorno às atividades normais é feito junto com – eles de novo – o desenvolvimento da flexibilidade e força muscular.

Mesmo a fisioterapia é prova de que tratamento e prevenção andam lado a lado. “A fisioterapia surgiu dentro do esporte com o objetivo de tratar lesões adquiridas pelos atletas durante os treinamentos e competições. Porém, com o desenvolvimento de novas técnicas e protocolos, passou a ter um papel fundamental na prevenção dessas lesões e as técnicas cirúrgicas estão muito avançadas no tratamento das lesões no esporte, os diagnósticos são precisos com uso de aparelhos modernos de ultra-sonografia e ressonância magnética”, explica Homsi. “De maneira geral, a fisioterapia conta com uma série de recursos que resultam na diminuição ou desaparecimento dos sintomas. Ultra-som, ondas curtas, eletroestimulação, ou até mesmo o tão utilizado gelo, trazem resultados surpreendentemente positivos quando bem aplicados”, completa Carla Pereira, fisioterapeuta ligada ao Laboratório de Biomecânica do Movimento e da Postura da USP.

De acordo com a profissional, somente a utilização desses recursos terapêuticos não soluciona o problema cuja causa, na maioria das vezes, é mecânica. “Para tal, exercícios de fortalecimento muscular e alongamento são necessários na tentativa de corrigir uma possível mecânica alterada. Existem ainda as técnicas posturais, como o RPG, iso-stretching ou Pilates, que são bastante interessantes por tratar o paciente como um todo, não o reduzindo a uma única articulação”, acredita.

A medicina caminha para a utilização de células-tronco na cura dessas lesões, mas Neto admite que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “É algo para o futuro, pelo menos para o grande público. Será uma grande mudança na ortopedia, pois nas últimas décadas, apesar dos equipamentos e procedimentos, principalmente cirúrgicos, terem evoluído muito, tudo tinha base num mesmo tipo de conhecimento.” Nas novas cirurgias, está sendo estudada a utilização de fatores de crescimento, o que significa introduzir no local afetado células que regeneram o tecido.

Em relação ao diagnóstico, Carla cita a ressonância nuclear magnética (RNM), o ultra-som (US), a tomografia computadorizada (TC) e a cintilografia óssea como os exemplos mais modernos. Mesmo com os avanços, Gali reconhece a importância do profissional. “Nada substitui uma boa história clínica e um bom exame clínico.”

FATORES QUE PREDISPÕEM OS CORREDORES A SOFRER LESÕES:

INTRÍNSECOS:
• mal alinhamento dos membros inferiores (posição do joelho: valgo ou varo);
• assimetria do movimento do quadril;
• discrepância de comprimento entre membros inferiores;
• tíbia vara;
• pronação excessiva da articulação subtalar;
• fadiga muscular;
• magnitude no impacto (1,5 a 5 vezes o peso corporal);
• taxa da força de impacto (velocidade em que ela ocorre no sistema esquelético, já que o músculo não tem tempo suficiente para efetuar seu papel de amortecedor);
• ângulo do joelho maior que 16 graus (entre a reta formada pelo ponto central da patela e a porção proeminente do osso do quadril e uma reta perpendicular ao solo, passando pelo centro da patela);
• formação do arco plantar (alto, normal ou baixo).

EXTRÍNSECOS:
• locais de corrida inadequados (terrenos irregulares, muita subida e/ou descida);
• tênis de corrida (deve ser de acordo com a distância que irá competir/treinar e com seu tipo de pisada);
• erro de treinamento (aumento de quilometragem e volume maior que 10% a 15% semanal);
• falta de alongamento;
• fortalecimento muscular inadequado.

TENDINOPATIAS Popularmente conhecidas como tendinites, podem surgir em qualquer tendão do corpo. No caso dos corredores, são mais recorrentes no tendão-de-aquiles (tendinite no tendão calcâneo) e logo abaixo da patela, no joelho (tendinite patelar). No primeiro caso, a dor pode ser irradiada para a panturrilha, principalmente ao levantar-se ou iniciar o trote, ou mesmo uma caminhada. “O atleta com esta inflamação terá dores matinais, dificuldade de correr em subidas, descidas e também quando se alonga a musculatura da panturrilha”, avisa o fisioterapeuta David Homsi. Pode haver inchaço no local. No caso da tendinite patelar, a dor é na frente do joelho, logo abaixo da patela. De acordo com o ortopedista Julio Gali, “piora se o joelho estiver muito tempo flexionado, para subir escadas ou para pisar na embreagem de automóveis.” A lesão pode ir de um simples desconforto até o ponto de se tornar incapacitante. Em ambos os casos o vilão é o excesso de treinamento. “Todo quadro de tendinite se instala uma vez que determinado músculo não se encontra preparado o suficiente para realizar uma tarefa. Por isso esta patologia é bastante relacionada aos treinos excessivos. Além dos alongamentos da musculatura acometida, com a diminuição do quadro de dor, o treino de fortalecimento muscular deve ser gradualmente iniciado. Nestes casos, o gelo traz resultados excelentes no controle da dor”, indica a fisioterapeuta Carla Pereira. O ortopedista José Marques Neto considera a lesão uma das mais frustrantes para médicos e pacientes, pois é de difícil tratamento. “Muitas vezes se torna um problema crônico e pode levar ao rompimento total do tendão e virar caso de cirurgia. É uma dor que não passa e vai piorando com o tempo, inchando.”

FASCIITE PLANTAR A fáscia plantar é uma faixa que reveste o músculo flexor curto dos dedos, localizada na planta do pé. A fasciite nada mais é que a inflamação desse tecido conjuntivo. “A fáscia é constituída por tecido fibroso, sendo completamente inelástica. Ela é de origem traumática, responsável por dar tensão e manter a arcada óssea do pé estável. A sua dor é freqüentemente confundida como sendo do esporão calcâneo (formação óssea com aspecto de uma ponta no calcanhar). Mas o esporão do calcâneo faz parte do quadro da fasciite plantar e se caracteriza por um crescimento ósseo no calcâneo. É importante salientar que o esporão não ocorre na fáscia plantar e sim na musculatura flexora anterior dos dedos à qual é adjacente a fáscia”, explica Homsi. O profissional considera como principais causas à retração do tendão calcâneo, pé cavo ou plano, encurtamento da musculatura posterior da perna, além do já conhecido excesso de treinamento. Os sintomas são dores locais que pioram com a corrida ou ainda dor matinal, logo na primeira pisada da manhã, devido ao tempo que o corpo ficou parado. As dores variam de acordo com o nível da lesão, podendo até forçar o corredor a parar. “A região pode aparecer somente sensível a um toque manual mais profundo ou pode chegar ao ponto de ser insuportável tocar o pé no chão”, observa Carla. O alongamento da panturrilha e do local afetado é a melhor forma de diminuir a dor. “Faça-o com um bastão ou bolinha, deslizando do calcanhar até os dedos. A massagem na planta dos pés traz bons resultados, mas inicialmente também poderá ser desconfortável devido à presença de dor intensa. Além disso, o fortalecimento da musculatura do pé é necessário, por isso, quando o sintoma de dor estiver controlado, inicie com exercícios de equilíbrio e movimentos gerais dos artelhos/’dedos’ (abrir, fechar, flexionar e estender)”, completa.

SÍNDROME DA DOR PATELO-FEMORAL O paciente sente um incômodo no joelho, mas muitas vezes não sabe precisar onde, pois ele é difuso. Geralmente, reclama de piora quando fica muito tempo numa mesma posição sentado, como quando vai ao cinema. “Pode agravar-se com determinadas atividades, tais como subir e descer escadas, subidas em treinos de corrida ou descidas acentuadas”, avisa Homsi. Os tratamentos incluem fortalecimento muscular do membro inferior e alongamento dos músculos extensores e flexores do joelho, além da panturrilha. “Isso tende a amenizar os sintomas, pois diminui a tensão muscular, assim como a compressão exercida pela patela na tróclea do fêmur. O fortalecimento serve para estabilizar a articulação do joelho, promovendo uma mecânica adequada para o funcionamento desta articulação, ou seja, fazendo com que a polia (patela) corra facilmente pelo seu trilho (tróclea do fêmur)”, explica Carla.

FRATURAS POR ESTRESSE A exemplo das tendinopatias, podem ocorrer em diversas áreas, mas são mais comuns entre os corredores as lesões na tíbia. Trata-se de uma dor freqüente na canela logo após o início das atividades – seja correr ou andar. De acordo com José Marques Neto, a dor é “à ponta do dedo”, ou seja, pontual. A dor em si não indica fratura, mas é um sinal inicial de que o treinamento é excessivo. “Nesses casos, a combinação de gelo, alongamentos e repouso é imbatível. O alongamento da musculatura posterior da perna é essencial. Quando o repouso não pode ser feito, sugere-se o deep running, ou seja, correr em águas profundas, uma vez que não apresenta impacto, e mantém o condicionamento”, indica Carla.

SÍNDROME DO TRATO ÍLIO-TIBIAL Também conhecida como ‘joelho do corredor’, trata-se de uma dor na porção externa do joelho, que piora ao se levantar e pedalar. “É causada pela fricção da banda ílio-tibial no epicôndilo lateral. Corredores e ciclistas são comumente afetados”, alerta Homsi. Os movimentos repetitivos de ambos os esportes são os agentes causadores deste tipo de lesão. “Com o excesso de tensão nesse grupo muscular, o tendão de fixação localizado na região lateral do joelho age como uma corda tensa em atrito. Associado ao alto número de repetições dos movimentos de flexão e extensão, resulta em um quadro inflamatório nessa região”, explica Carla. José Marques Neto avisa que, muitas vezes, o problema pode ser confundido com uma lesão no joelho propriamente dito. A melhor forma de prevenção e tratamento para esse tipo de contusão é o alongamento. Uma vez instaurada, a dor pode ser diminuída com gelo, mas com cuidado. “Temos um nervo bem superficial na região lateral, portanto, a qualquer sinal de dormência da perna, mude o gelo de lugar ou encerre a aplicação”, avisa a profissional.

Matéria originalmente publicada na edição 54 da Revista SuperAção