Por GSSI – GATORADE em parceria com Ft.David Homsi
O fato de a hiponatremia poder ser fatal a atletas que não apresentam nenhum outro tipo de patologias é motivo suficiente para fazer com que os profissionais de saúde esportiva conheçam quais são os fatores de risco e como esse distúrbio pode ser evitado. Apesar da incidência de hiponatremia fatal ser rara, relatos de caso e dados descritivos sugerem que a hiponatremia não fatal é comum.
O que é hiponatremia?
A hiponatremia é um desequílibrio hidroeletrolítico que resulta na queda anormal da concentração plasmática de sódio (<135 mmol/l; normal = 136-142 mmol/l).
Quanto mais rápida for a queda do nível de sódio e quanto mais baixo for esse valor, maior o risco das conseqüências ameaçarem a vida.
A hiponatremia que acomete os atletas é caracterizada mais freqüentemente pela hipoosmolalidade (hipotonicidade) do plasma. Essa condição é conhecida como hipotônica ou hiponatremia dilucional, ou seja, há mais água que o normal para a quantidade de substâncias dissolvidas no plasma.
O quanto a hiponatremia é perigosa?
– A concentração plasmática de sódio entre 125-135 mmol/l geralmente resulta em sintomas não perceptíveis ou em distúrbios gastrointestinais relativamente moderados, tais como a distensão ou náusea moderada.
– na concentração plasmática de sódio < 125 mmol/l, os sintomas tornam-se mais graves e incluem cefaléia latejante, vômitos, sibilos, edema de mãos e pés, inquietação, fadiga incomum, confusão e desorientação (Adrogué & Madias, 2000).
– na concentração plasmática de sódio < 120 mmol/l, pode ocorrer crises, parada respiratória, coma, danos cerebrais permanentes e até morte.
Quem corre o risco de apresentar hiponatremia?
De modo geral, atletas que ingerem líquidos em excesso antes e durante exercícios prolongados em ambientes quentes e úmidos correm o risco de desenvolver a hiponatremia. Apesar de atletas com porte físico maior não estarem imunes à hiponatremia, atletas menores e de provas lentas que suam muito, que excretam um suor salgado e que são excessivamente cuidadosos com os hábitos relacionados à ingestão de líquidos são aqueles que correm mais risco.
Corredores de provas lentas, triatletas e ciclistas têm mais tempo e mais oportunidades para ingerir líquidos em excesso.
Os atletas que já começam suas atividades com hiponatremia em função da ingestão excessiva de líquidos nos dias ou horas anteriores à competição, correm o risco de desenvolver hiponatremia ainda mais grave durante a competição, porque menos líquidos são necessários para fazer com que os níveis de sódio atinjam valores perigosos.
O que causa a hiponatremia em atletas?
Há muitas causas possíveis para explicar a hiponatremia relacionada ao exercício. Uma hipótese é a Síndrome da Secreção Inadequada de Hormônio Anti-Diurético (ADH) – a SIADH. Na presença da Síndrome, há uma redução na produção de urina e um aumento da retenção hídrica na presença de sobrecarga de líquidos.
Uma segunda hipótese é a do seqüestro da água no intestino, resultando em uma diluição das concentrações sanguíneas após a competição, quando a água é absorvida.
Outra hipótese está relacionada ao uso abusivo de antiinflamatórios não hormonais que podem alterar a função renal e reduzir a produção de urina.
Finalmente, a hiponatremia pode ser causada por elevadas perdas anormais de sódio no suor. A ingestão excessiva de líquidos é freqüentemente, mas não sempre, o fator comum desses casos. Entretanto, mesmo na ausência de outras causas, a ingestão excessiva de líquidos por si só pode resultar em hiponatremia.
As mulheres têm mais risco de apresentar hiponatremia?
Mesmo que o risco de apresentar hiponatremia não seja maior para as mulheres, o prognóstico clínico é pior para elas (Ayus e cols.,1992). Isso talvez seja explicado porque o estrogênio inibe a enzima responsável por colocar o potássio para fora das células cerebrais (Arieff, 1986). A resposta ao edema causado pela hiponatremia é o transporte de potássio para fora da célula, reduzindo, assim, a osmolalidade intracelular e equilibrando a entrada de mais água para dentro da célula (Adrogué & Madias, 2000). Da mesma maneira, se a enzima ATPase da bomba de sódio-potássio for inibida pelo estrogênio, a evolução clínica da hiponatremia pode ser ainda mais grave.
Por que o suor salgado é um fator de risco?
Atletas em boa forma física que estão bem aclimatados para se exercitar em ambientes quentes geralmente excretam suor com concentrações de sódio abaixo de 40 mmol/l porque a capacidade das glândulas sudoríparas conservarem o sódio é aumentada com a aclimatação ao calor e com o melhor condicionamento aeróbico. Essa redução na perda de sódio não só auxilia a proteger o volume de sangue, como também auxilia a reduzir o risco de hiponatremia. Entretanto, indivíduos relativamente fora de forma e não aclimatados e mesmo alguns atletas altamente treinados, podem excretar suor contendo concentrações de sódio acima de 60mmol/l. Essas pessoas, principalmente aquelas com elevada taxa de sudorese, podem perder grandes quantias de sódio.
O fato importante é que esta perda de sódio através do suor pode ser um fator que contribui para a etiologia da hiponatremia e que perdas maiores implicam em risco maior.
A hiponatremia é geralmente causada pela combinação da perda de sódio pelo suor e pela ingestão excessiva de água.